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Conservação de epífitas contribui para o equilíbrio da natureza
Pesquisador João Batista da Silva e sua equipe são guardiões destas espécies na Flona Saracá-Taquera
Há mais de 40 anos, o pesquisador João Batista da Silva, 77 anos, dedica-se ao estudo da botânica com foco em epífitas. De lá para cá, já contribuiu, junto a outros pesquisadores, na identificação e catalogação de mil espécies na Amazônia. Desde 2008, coordena o programa de resgate e reintrodução de epífitas na Floresta Nacional (Flona) Saracá-Taquera, no oeste paraense, uma iniciativa da Mineração Rio do Norte (MRN) que tem sido essencial para a conservação das epífitas e hemiepífitas nesta unidade de conservação.
As epífitas são plantas que vivem nas árvores e têm elas como suporte para sobreviver, podendo crescer do tronco até a copa. Entre os exemplos mais conhecidos estão espécies como orquídeas e bromélias. Quando germina na árvore, vive a fase como epífita. Quando começa a enramar, florescer, frutificar e soltar as sementes e raízes, então se transforma em hemiepífita. “São plantas muito importantes porque têm seu próprio mecanismo de sobrevivência. São esponjosas e, por isso, captam umidade e nutrientes das árvores onde estão para sobreviver. São boas indicadoras de tempo e umidade. Também são uma casa para muitos animais pequenos como insetos que moram em epífitas, que viabilizam sobrevivência para eles. Desta forma, sinalizam um bom desenvolvimento do reflorestamento. E têm ainda importância ornamental no mundo todo”, explica João Batista.
Em Porto Trombetas, Oriximiná (PA), a MRN mantém o Epifitário com amostragem de mais de 2 mil plantas de todas as espécies da Flona resgatadas e já reintroduzidas. Paralelamente, anualmente, mais de 20 mil epífitas são resgatadas e reintroduzidas à natureza por meio do Programa de Resgate de Flora, que também já tem catalogadas mais de 130 espécies de orquídeas, 25 espécies de bromélias e 75 de aráceas - família botânica composta por cerca de 100 gêneros e aproximadamente 3 mil espécies, entre elas se destacam antúrios e copos-de-leite.
Um engenheiro florestal, um biólogo e cinco auxiliares de campo compõem a equipe de João Batista, que desenvolve o trabalho de preservação de epífitas e hemiepífitas coletadas, realizado antes e após a supressão da vegetação para a lavra mineral. Por meio Programa de Resgate de Flora são desenvolvidas as seguintes atividades: reprodução de espécies resgatadas, montagem de coleção de referência e reintrodução das espécies resgatadas e propagadas no Epifitário nas áreas em recuperação.
O pesquisador assinala que a experiência tem sido gratificante pela possibilidade de compartilhar seu amplo conhecimento e de vivenciar uma dinâmica de campo diferenciada de sua trajetória anterior, em que o foco era fazer inventários amplos e gerais sobre a flora em vários estados brasileiros. Nos trabalhos na Flona Saracá-Taquera, além de levantamentos e planos de manejo, ele e sua equipe têm como foco acompanhar todas as etapas desenvolvimento de uma mesma espécie por até 11 anos. “A mineração me deu uma experiência que eu ainda não tinha conseguido em nenhum outro lugar: passar um ano, 10 e até 11 anos observando a mesma planta: descobrindo as suas fases, floração, crescimento, dispersão, frutificação. Eu ainda não tinha feito, não conhecia e gostei demais. Passar até 11 anos observando a mesma planta, parece que você enjoa ou desinteressa, mas não é isso. Você fica cada vez mais curioso porque nota quando a planta, por um ou outro motivo, está diferente, como, por exemplo, o ano que não floresce, se não cresceu suficiente, e você procura os motivos”, relata o pesquisador.
As atividades de resgate de João Batista e sua equipe ocorrem antes e após a etapa de supressão vegetal. Antes, a equipe entra na área para resgatar todas as epífitas que estão numa altura correta para a coleta. “Após a supressão, vamos árvore por árvore, coletando as epífitas que encontramos do tronco até a copa. Somos conhecidos na MRN como a equipe das epífitas”, declara. Outra frente é contribuir com as ações de reflorestamento. “A maior importância em nosso trabalho também é repor à natureza parte do que foi retirada. Tratamos destas plantas no Epifitário: lá elas são identificadas, contadas, limpas e levadas de volta para serem repostas através do reflorestamento”, assinala João Batista.
Vladimir Moreira, diretor de Sustentabilidade da MRN, assinala que o trabalho desenvolvido tem sido fundamental para a conservação destas espécies na Flona Saracá-Taquera. “É gratificante acompanhar a dedicação destes pesquisadores neste que é um dos trabalhos fundamentais em nosso processo de reflorestamento, essencial para manter a flora preservada”, destaca Moreira.
Compartilhamento – Para João Batista, entre as grandes satisfações de seus trabalhos em campo estão, além das atividades, o ambiente, o acolhimento e a interação com a equipe. “Na minha área de trabalho na mineração, eu me sinto em casa. Estou há 11 anos aqui e, diariamente, estou em contato com os meus colegas de trabalho. É como estar no meio familiar. Onde todo dia posso compartilhar meu conhecimento e as vivências do dia a dia e eles também compartilham comigo. Amo a todos eles como se fossem meus irmãos e amigos. Isso é muito agradável”, destaca.
Experiências - Nos anos 80 e 90, João Batista fez diversas viagens longas de trabalho de campo pelo Brasil e em áreas de fronteira, fazendo levantamento de orquídeas na Serra dos Carajás (PA), em Coary (AM) e no Pico da Neblina (AM). De 91 a 2007, acompanhou a primeira comissão demarcadora de limites, que deu apoio logístico para ele acompanhar e fazer coletas botânicas por toda a fronteira entre a República da Guiana até Rondônia. Nestes anos, participou de campanhas na fronteira com a Guiana, Venezuela, Colômbia e próximo ao Rio Negro. Entre outros trabalhos, também fez um zoneamento na área de flora do estado de Rondônia e participou de levantamentos na represa de Belo Monte. “Esses trabalhos eram de inventários e de levantamento de reconhecimento de espécies que haviam na natureza nestas flonas para planos de manejo”, conta.
Além da MRN e de outras grandes empresas brasileiras, João Batista é colaborador da área de botânica do Museu Emílio Goeldi, onde, nos anos 70, exercia atividades de pesquisa documental, mas sempre dava um jeito de andar pelas matas com o propósito de conhecer a floresta com foco em encontrar mais orquídeas. Em autoria e coautoria com a pesquisadora doutora em botânica do Museu Emílio Goeldi, Manoela Ferreira, lançou dois livros, que são resultados dos trabalhos de identificação e catalogação de espécies de epífitas na Amazônia. “Depois de todas as expedições, que somavam na época 30 anos de campo, descobrimos que tinha material para escrever dois livros e tinha essa necessidade porque não havia literatura específica sobre orquídeas na Amazônia. Das 719 espécies publicadas, atualmente já aumentamos para mil espécies, mostrando os recentes resultados dos nossos trabalhos. Já temos 10 espécies publicadas na Flona Saracá-Taquera e no entorno de Oriximiná, Terra Santa e Faro. Temos mais espécies em estudo para publicar. Se tudo der certo, teremos mais 10 para serem publicadas. Esses estudos são importantes e necessários porque eles aumentam a listagem da flora do Brasil”, ressalta.
Diversidade – A paixão pela natureza, segundo João Batista, está no poder de organização, fascinação e na curiosidade que desperta, mantendo vidas distintas em seu ambiente. “Se pararmos para pensar que no globo terrestre temos os polos gelados, as áreas temperadas e temos as florestas, o mar, os rios, as serras, que têm tipologia diferente e que, para cada ambiente desse, a natureza proporciona vida para todos os animais e todas as plantas, verificamos que a natureza é muito organizada. Cada tipo de vida tem seu próprio lugar para morar. A beleza que é a maior atração da natureza porque propõe prazer e alegria às pessoas. A natureza é fantástica. É muito interessante passar dias em uma mata, em uma serra, observando a natureza. É por isso, que eu gosto dela”, declara.
Sobre a planta que mais admira, o pesquisador conta que é sempre a que ele encontra pela primeira vez. “E aquela que, além de ser a primeira vez, existe a possibilidade de ser uma espécie nova, mexe com o meu coração de verdade. Eu tenho 40 anos de campo, possivelmente eu já descobri aproximadamente 100 espécies e eu vou continuar, porque é assim que se trabalha e consegue resultados”, afirma.
João Batista comenta também a importância de mais pessoas se conscientizarem sobre os benefícios de um relacionamento harmônico com a natureza e adotarem boas práticas diariamente neste caminho. “Eu acho que cada pessoa tem que ser um exemplo de cuidado com a natureza, com o meio ambiente e com a conservação e a preservação das espécies desse planeta. Seja um exemplo”, incentiva o pesquisador.
Projeto Quilombo retoma rotina de atendimentos nos territórios Alto Trombetas 1 e 2
Iniciativa segue agenda em 14 comunidades quilombolas com foco na saúde preventiva
Ao cumprir o ciclo de sete meses de monitoramento e atendimentos, estendidos durante o período de pico da pandemia, beneficiando em torno de 6 mil pessoas de 25 comunidades tradicionais no oeste paraense, o projeto Quilombo retomou a rotina de suas atividades na região do Alto Trombetas 1 e 2 no mês de novembro, concluindo, neste mês de dezembro, o trabalho médico itinerante deste ano. A iniciativa faz parte do Programa de Educação Socioambiental da Mineração Rio do Norte (MRN), em atendimento às condicionantes do Ibama.
O projeto segue com os atendimentos mantendo todas as medidas de prevenção e conscientização em relação ao uso de máscaras, isolamento social e higienização das mãos. “Felizmente, a abordagem e a estratégia adotadas de tratamento têm sido extremamente efetivas. O protocolo de retomada à rotina de atendimentos segue orientações estabelecidas e acordadas com o Hospital de Porto Trombetas e com a Secretaria Municipal de Saúde de Oriximiná, incluindo distanciamento social, uso obrigatório de máscara, álcool em gel, sabão, padrões básicos de higienização e, assim, a gente consegue orientar”, comenta Dr. Joseraldo Furlan, conhecido como “Dr. Jô”, médico que conduz o projeto em campo.
Neste mês, a equipe do projeto Quilombo pode confirmar que boa parte das comunidades conscientizou-se sobre a importância da saúde preventiva, resultado das orientações durante os trabalhos de campo ao longo deste ano de pandemia. “Muitas comunidades realmente procuraram se preservar. Felizmente, o resultado foi positivo, mesmo com alguns poucos casos de contaminação apresentados nas comunidades de ribeirinhos e quilombolas, a conduta terapêutica e o tratamento precoce foram extremamente eficazes. Isso para gente é muito importante”, relata o Dr. Jô.
Para o agente comunitário de saúde da comunidade Palhal e liderança local José Adomiro, conhecido como “Bila”, a extensão do projeto gerou melhoria para as comunidades, que precisavam de uma iniciativa que viabilizasse atenção à prevenção sobre a covid-19. “Foi um trabalho que não parou e foi muito gratificante porque fortaleceu os atendimentos no Território Quilombola de Alto Trombetas 2. As pessoas são bem atendidas. Esperamos que este projeto possa se estender por mais um tempo dentro do nosso território”, comenta.
A relevância de fomentar a medicina preventiva e básica da saúde em comunidades remotas, como as atendidas pelo projeto Quilombo, é destacada pelo diretor de Sustentabilidade da MRN, Vladimir Moreira. “Este projeto é uma das frentes fundamentais para garantir a saúde preventiva das comunidades da região do Alto Trombetas 1 e 2, contribuindo com atendimentos de qualidade para o bem-estar de centenas de pessoas anualmente e, especialmente neste ano de pandemia, conscientizando-as para redobrar os cuidados”, declara Moreira.
Para a agente comunitária de saúde Maria Cileusa, moradora da comunidade Paraná do Abuí, do território quilombola Alto Trombetas 1, o projeto Quilombo deu o suporte necessário às comunidades durante a pandemia. “Tivemos uma supervisão muito boa com atendimento a pacientes que estavam com sintomas de covid-19 em suas residências além de orientação persistente aos pacientes para ficarem em casa. Foi o apoio que as comunidades precisavam. O atendimento de rotina pelo projeto segue com boa qualidade”, destaca a agente comunitária de saúde.
As ações do Projeto Quilombo são complementares às do poder público, que é o principal responsável pela coordenação das políticas de saúde. “Para a MRN e as comunidades envolvidas, é de grande importância a cooperação da Secretaria de Saúde do Município de Oriximiná. As parcerias nos fortalecem e garantem que as ações estejam alinhadas às políticas públicas de saúde. E essas, por sua vez, estão sujeitas ao crivo da sociedade, por meio dos mecanismos participativos de controle social. Isso é fundamental para a garantia de bons resultados”, avalia Jéssica Naime, gerente de Relações Comunitárias da MRN.
O Projeto Quilombo é uma ação da MRN em resposta a uma condicionante socioambiental, que busca fortalecer as ações de saúde na região do Alto Trombetas a partir de três pilares: ações de prevenção, atendimento básico em saúde e disseminação da informação. Nesse sentido, além do atendimento presencial nas comunidades realizado por uma equipe formada por médico, enfermeiros e agentes de saúde, as ações educativas são de fundamental importância para a prevenção de doenças, cujos protagonistas são os próprios comunitários, ribeirinhos e quilombolas.
Sobre o projeto – O Projeto Quilombo atende 14 comunidades do Alto Trombetas 1 e 2 com serviços de assistência à saúde para tratar e prevenir patologias. São oferecidos serviços de pré-natal, atendimentos em clínica geral e enfermagem, Hiperdia para acompanhamento de hipertensos e diabéticos, planejamento familiar, vacinação, distribuição de medicamentos, exames laboratoriais e palestras informativas. Por meio do projeto, também são desenvolvidas iniciativas de combate à desnutrição.
Projeto de Meliponicultura contribui para conservação da natureza em Terra Santa
Iniciativa também gera renda e melhora a qualidade de vida de famílias do município
Senso de preservação ambiental, geração de renda e melhoria da na qualidade de vida de 20 famílias do município de Terra Santa, no oeste do Pará, são os principais resultados do Projeto de Meliponicultura, iniciativa do Programa de Educação Socioambiental da Mineração Rio do Norte (MRN) em cumprimento de condicionantes do Ibama, desenvolvido com a parceria da Secretaria Municipal de Agricultura e Abastecimento (Semagri).
Desenvolvido nas comunidades do Alema, Jauaruna e Urubutinga, este projeto viabiliza ações de educação ambiental e prestação de assistência técnica às famílias de produtores rurais para desenvolver atividades da meliponicultura, visando a utilização racional dos recursos naturais e a geração de renda dos comunitários por meio da produção de mel silvestre. “O projeto contribui diretamente com a venda de mel, que é uma renda extra para os beneficiários, e, indiretamente, com o aumento da produção de frutos e sua expansão por meio da polinização das flores, que é realizada pelas abelhas sem ferrão”, explica Cristina Leite, titular da Semagri, parceira no projeto e que conduz juntamente com a sua equipe as atividades de campo.
O produtor Renan Godinho, 34, da comunidade do Alema, participa do projeto desde dezembro de 2019. De lá para cá, comenta que as experiências de capacitação têm sido positivas para incrementar seu trabalho em fruticultura e para iniciar também na produção de mel. “A experiência tem sido muito boa. Contribui para melhorar a polinização das flores dos pés de fruta, gerando frutas de mais qualidade. Já fiz treinamento de introdução à meliponilcultura, de manejo de abelhas sem ferrão, produção de caixas para abrigar as abelhas e de como distribuí-las em cada caixa”, relata Renan.
Para Genilda Cunha, analista de Relações Comunitárias e coordenadora do projeto pela MRN, esta iniciativa vai além do aprimoramento técnico e da geração de renda para as comunidades envolvidas: “Além de viabilizar as assessorias técnicas e palestras para orientar os produtores, o projeto colabora com a educação ambiental, conscientizando-os para as boas práticas de preservação durante as atividades produtivas”, declara.
A produtora Ellen Hassemer, 30, participa há três anos do projeto e destaca como foi benéfico para capacitá-la na produção do mel. “Foi minha primeira experiência de capacitação nesta área em Terra Santa. Aprendi a multiplicar as caixas que abrigam as abelhas e a garantir produtividade e mais qualidade do mel. Foi importante também porque, antes, eu produzia o mel só para consumo interno e, com o projeto, observei as oportunidades de mercado e agora esta atividade contribui para o incremento de minha renda”, assinala.
Atividades - De janeiro a março deste ano, foram realizadas palestras e visitas técnicas aos meliponários, mas, por conta da pandemia, o projeto fez ajustes na sua metodologia de trabalho. No período de março até dezembro deste ano, visando garantir a saúde preventiva das comunidades envolvidas, as ações educativas foram suspensas e as demais iniciativas, como assessoria técnica, adequadas à realidade do cenário atual. “A partir desta semana até o dia 22 de dezembro, o projeto estará realizando visitas técnicas, tomando todas as medidas necessárias ao combate à pandemia. Será realizada também a coleta de mel e depois iremos planejar, para o próximo ano, ações como cursos e palestras”, comenta Cristina Leite.
O tema principal que será tratado na retomada do projeto será o manejo do meliponário e a adaptação das abelhas ao ambiente. “Nas visitas técnicas, vamos acompanhar e instruir os beneficiários durante o manejo, fazendo as recomendações necessárias para o bom desenvolvimento deste projeto”, declara Leite.
Mais de 5 mil pessoas atendidas no Projeto de Combate à Malária
As campanhas preventivas de 2020 beneficiaram comunidades quilombolas, ribeirinhas e indígenas de Oriximiná
Apesar da pandemia, as duas campanhas deste ano do Projeto de Combate à Malária tiveram grande êxito. Foram atendidas 22 comunidades da região do Alto Trombetas 1 e 2, e das aldeias indígenas Tawanã e Chapéu, no município de Oriximiná, oeste do Pará, com ações de borrifação e pulverização intradomiciliar. A iniciativa faz parte do Programa de Educação Socioambiental (PES) da Mineração Rio do Norte (MRN) em atendimento a condicionantes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). A ação tem sido essencial para prevenção, controle e combate à malária, buscando contribuir para a redução da mortalidade infantil e adulta das comunidades. Em 1999, quando o projeto foi implantado, havia 1.126 casos da doença. Já no ano passado, foram registrados 87 casos. “Para nós, esse projeto é muito importante porque, através desse trabalho, o mosquito que transmite a doença é eliminado”, declara Manoel Pereira dos Santos, da comunidade Cachoeira Porteira.
Para realizar os atendimentos, os agentes comunitários percorrem mais de 100km, visitando casa por casa na região do Alto Trombetas. Com a permissão do morador, a equipe aplica inseticida nas paredes da casa. Já na área externa é feita aplicação do fumacê com o objetivo de eliminar os mosquitos infectados para evitar o risco de transmissão da malária. “Acho muito bom a Mineração ajudar, trabalhando e defendendo a aldeia da malária”, comenta Mayca Wai Wai, moradora da Aldeia Tawanã
Para evitar aglomerações, este ano não foram realizadas ações educativas. “Esperamos retomar essas atividades no próximo ano. Nas duas campanhas que tivemos, as atividades foram bem intensas com borrifação e fumacê no início da tarde e próximo ao amanhecer com o objetivo de diminuir a presença do mosquito transmissor”, explica Edmundo Barbosa, coordenador técnico de Saúde Pública da MRN. Ele também reforça que sempre o melhor caminho é o da prevenção. “Pedimos aos moradores das comunidades que adotem todas as medidas preventivas da malária e da covid-19, mantendo o distanciamento social, evitando visitas em comunidades afetadas pela doença e seguindo todas as orientações dos especialistas”, recomenda.
Para Valdelina Viana, agente Comunitária de Saúde de Cachoeira Porteira, esta ação de controle, que também contará com o suporte da prefeitura de Oriximiná para implantar um laboratório de base , vai melhorar bastante e reduzir os casos de malária. “Queremos uma comunidade sem malária. A prefeitura também nos apoiará, montando um laboratório de base para fazer o controle do mosquito e teremos novo microscópio”, comemora Valdelina Viana.
Medidas para o combate ao mosquito transmissor da malária:
- Reaproveitamento dos ouriços de castanha, utilizando-os na fabricação de biojoia e artesanato e também na queima como lenha e carvão para cozinhar. Isso serve para evitar o acumulo de água, principalmente, no inverno.
- Manter o ambiente limpo ao redor da casa.
- Usar mosquiteiro e repelentes.
- Evitar pescar ou tomar banho de rio e lagos ao anoitecer ou amanhecer, horários comuns do aparecimento dos mosquitos.
- Usar roupas que protejam pernas e braços.
Nascimento de 30 mil quelônios abre novo ciclo de conservação
Apesar da pandemia, temporada 2020 do Programa Quelônios do Rio Trombetas manteve voluntários engajados com a proteção de espécies
Os primeiros 30 mil filhotes de tracajás (Podocnemis unifilis), pitiús (P. sextuberculata) e tartarugas-da-amazônia (P. expansa) da temporada 2020 do Programa Quelônios do Rio Trombetas (PQT) nasceram até o momento na Reserva Biológica do Rio Trombetas (Rebio Trombetas). As ações de manejo reprodutivo desses quelônios são realizadas anualmente na região dos tabuleiros do alto rio Trombetas e no Lago Erepecu, município de Oriximiná, no oeste do Pará.
O PQT é desenvolvido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em parceria com a Mineração Rio do Norte (MRN) e o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ). Também conta com a fundamental parceria de mais de 100 comunitários quilombolas voluntários, totalizando 28 famílias, que trabalham na proteção, manejo e monitoramento de ninhos, ovos e filhotes nos tabuleiros de desova.
Este ano, o modelo do programa precisou ser readequado para atender as normas de segurança preventiva das autoridades de saúde por conta da pandemia de covid-19. O número de praias protegidas (chocadeiras) foi reduzido de 12 para 6. “Houve a necessidade de adaptação das ações, principalmente no que se refere à participação dos comunitários voluntários do programa. Essa redução não afetou o esforço da busca de ninhos e a efetiva proteção dos quelônios. Mantivemos em funcionamento as chocadeiras nas praias protegidas, onde as famílias voluntárias são residentes, evitando que elas tivessem que deslocar suas residências para praias protegidas para não ocorrer aglomeração de famílias diferentes em uma mesma área”, explica Marco Aurélio da Silva, coordenador de pesquisa e monitoramento do Núcleo de Gestão Integrada (NGI) do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) Trombetas.
Tradicionalmente, os nascimentos dos filhotes de tartaruga-da-amazônia, tracajá e pitiú ocorrem a partir de novembro até o final de janeiro, dependendo da espécie na região do Tabuleiro e no Lago Erepecu. “Não podemos prever números, mas, apesar dos desafios adicionais impostos pela pandemia, esperamos para a temporada 2020-2021 um número maior de nascimentos do que a média dos últimos anos devido a alterações que realizamos em algumas áreas do PQT que viabilizaram a proteção de um número maior de ninhos desses quelônios”, declara Marco Aurélio.
Os filhotes nascidos nas praias protegidas são mantidos por 10 a 15 dias em cativeiro até serem liberados no ambiente natural para que tenham maior capacidade de fuga dos predadores naturais, aumentando, assim, a chance de sobrevivência dos quelônios no primeiro mês de vida. Durante toda a temporada, os filhotes nascidos são liberados em pontos estratégicos pelos agentes ambientais. Para os eventos de soltura, demonstrativos das atividades do programa no final da temporada, em geral, são reservados os últimos 10 mil filhotes a nascerem no ciclo de 2020.
Os eventos de soltura de grande porte foram suspensos este ano para evitar aglomerações neste período da pandemia. “Teremos apenas pequenas reuniões nas chocadeiras com um número menor de voluntários para fazer uma soltura simbólica com eles. Vamos manter a soltura gradual depois que os filhotes nascidos passarem 15 dias em cativeiro”, afirma Silva.
Adaptações - Nessa temporada, as famílias foram divididas em duas atividades: cuidadoras de chocadeiras e coletoras de ninhos. Essas últimas percorreram praias onde são encontradas desovas naturais, fizeram a coleta dos ovos e os levaram para as chocadeiras protegidas. Assim, o contato entre famílias diferentes foi bastante minimizado. Nesse ano, além dos tradicionais apoios de cesta básica de alimentos e víveres, combustíveis e materiais próprios para a busca e coleta de ninhos, também foi oferecido aos voluntários o kit covid com materiais de proteção como máscaras, protetor facial, álcool em gel e itens de higiene.
As ações do PQT ocorrem em duas frentes, a primeira pelos voluntários e a segunda frente pelo trabalho direto dos agentes do ICMBio que fazem o monitoramento e proteção de algumas praias com desovas naturais e também a busca e transferência dos ninhos em algumas áreas. “Complementarmente existe a efetivação de rotina de fiscalização por equipes de fiscais do ICMBio compostas de servidores provenientes de diversas regiões do país, inibindo a coleta ilegal de ovos e a pesca de quelônios adultos durante toda a temporada”, ressalta Silva.
Guardião de quelônios desde 1993, o agente ambiental do ICMBio Antônio dos Santos, conhecido como Sinho, da comunidade quilombola do Moura, em Oriximiná (PA), comenta que a experiência neste ano de pandemia exigiu adaptação e maior empenho da equipe do Instituto e dos voluntários, que contribuíram para manter produtivo o ciclo de nascimento dos filhotes. “Para evitar aglomerações de comunitários voluntários na Praia do Toró, tivemos que transferir a chocadeira que, nós, oito agentes, cuidávamos na base do Santa Rosa para lá e, de forma revezada, passamos a zelar pela praia. Achei que seria mais difícil ter produção boa, mas, graças a Deus, é uma grande alegria verificar que os ovos dos filhotes já eclodiram e nasceram. Outra satisfação é verificar que a maioria das pessoas daqui estão interagindo com o programa e se conscientizando para proteger os quelônios”, comemora.
Dedicação - Todos os voluntários do PQT são das comunidades quilombolas residentes da Reserva Biológica do Rio Trombetas como Último Quilombo, Nova Esperança do Lago do Erepecu e as comunidades da região dos tabuleiros do alto rio Trombetas, que participam ativamente. “É gratificante para a Mineração Rio do Norte acompanhar o engajamento destes comunitários que, mesmo apesar da pandemia, mantêm o compromisso com esse tão relevante programa realizado em nossa região”, declara Genilda Cunha, analista de Relações Comunitárias da MRN.
O PQT é um dos programas de conservação de fauna mais antigos do Brasil. Iniciado na década de 80, esse programa evitou a extinção das três espécies que são protegidas e soltas anualmente na bacia do rio Trombetas. “O PQT presta um relevante serviço de preservação dos quelônios, pois as comunidades locais têm o programa como exemplo de conscientização sobre a necessidade de conservação dos recursos naturais. A pandemia dificultou muito o planejamento das ações do PQT, mas demonstrou aos seus participantes que a soma de esforços entre comunidades, órgãos públicos, instituições de ensino e pesquisa e da iniciativa privada é o mais importante para o sucesso de um programa de conservação desse vulto”, conclui Marco Silva.
80,000 turtles released in Rio Trombetas in 2019
Iniciada em setembro, a temporada 2019 do Programa Quelônios do Rio Trombetas (PQT) soltou cerca de 80 mil quelônios na natureza. Entre as espécies, Tartarugas da Amazônia (Podocnemis expansa), Tracajás (Podocnemis unifilis) e Pitius (Podocnemis sextuberculata). E fechando a temporada, neste mês de janeiro de 2020 foram soltos cerca de 5 mil filhotes de Tartarugas da Amazônia.
As ações de soltura das Tartarugas da Amazônia são realizadas anualmente na região do Tabuleiro e as solturas dos Tracajás e Pitius ocorrem no Lago Erepecu. “A eclosão dos filhotes ocorre no período de setembro até janeiro. As 5 mil Tartarugas da Amazônia soltas em janeiro foram as últimas a nascer”, comenta Marco Aurélio da Silva, coordenador de pesquisa e monitoramento do NGI ICMBio Trombetas, que coordena o Programa Quelônios do Rio Trombetas, realizado há quase 40 anos nesta região.
Mais de 300 pessoas participaram do evento de soltura na região do Tabuleiro, entre voluntários e convidados da comunidade, ribeirinhos e quilombolas da região e universitários de Oriximiná e Santarém, no Pará, e de São Paulo. “Tivemos o aumento no número de filhotes liberados por temporada. Há uma década, tínhamos entre 25 a 30 mil liberados. Em 2019, liberamos 80 mil quelônios. Com este programa, conseguimos manter a população de quelônios, que teve declínio acentuado em anos anteriores a esta iniciativa. Se não fosse esse trabalho, essas espécies estariam extintas ou próximo da extinção no Rio Trombetas”, relata Marco Aurélio da Silva.
Por meio do programa, ainda segundo Marco Silva, ao conscientizar as pessoas para a proteção e manutenção dos quelônios, também é criada uma nova mentalidade das comunidades para a preservação de outros patrimônios ambientais da área de reserva na região. “Desta forma, é gerado um aspecto positivo para o ambiente como um todo e a comunidade se conscientiza de como se relacionar e manejar outros alvos de preservação da reserva como animais, plantas e produtos florestais”, declara.
Parcerias - A iniciativa faz parte do Programa Quelônios do Rio Trombetas (PQT), desenvolvido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em parceria com a Mineração Rio do Norte (MRN) e o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ). Também conta com a participação frequente de mais de 100 comunitários quilombolas voluntários, totalizando 27 famílias, que trabalham na proteção, manejo e monitoramento de ninhos, ovos e filhotes nos tabuleiros de desova.
A MRN também é parceira, desde 2003, do projeto Pé-de-Pincha, que incentiva a preservação de quelônios em Oriximiná e Terra Santa. A empresa tem parceria com a Universidade Federal do Amazonas – UFAM, através de convênio MRN e UNISOL. A iniciativa, realizada há 20 anos, também tem parceria do Fundo Municipal do Meio Ambiente, através das Secretarias Municipais de Meio Ambiente (Semma), UNIDA e da UFOPA em Oriximiná.
Para MRN, participar destas duas grandes experiências (Projeto Pé de Pincha e Programa Quelônios do Rio Trombetas) fortalece as iniciativas para preservação das espécies de quelônios na região. “É extremamente gratificante termos resultados positivos que tiveram engajamentos de vários parceiros, dentre eles: instituições públicas, comunitários, instituições de ensino, instituições privadas, comunidades ribeirinhas e quilombolas que também são voluntários engajados no cuidado e proteção da espécie. Esses resultados mostram o respeito ao meio ambiente e o cuidado genuíno que buscamos com as nossas comunidades e meio ambiente”, comenta Genilda Martins da Cunha, Analista de Relações Comunitárias Sênior na MRN.
Pé-de-Pincha - No dia 29/02 e no período de 06 a 15 de março deste ano, por meio do projeto Pé-de-Pincha, ocorrerá a soltura de cerca de 40 mil quelônios de quatro espécies: Tartaruga da Amazônia (Podocnemis expansa), Tracajá (P. unifilis), Pitiu/Iaçá (P. sextuberculata) e Calalumã/Irapuca (P.erythrocephala), em 18 comunidades de Oriximiná e cerca de 14.300 filhotes em sete comunidades de Terra Santa. Dia 29/02, na Fazenda Aliança, em Terra Santa, serão devolvidos à natureza 9.300 filhotes, monitorados também pelo Pé-de-Pincha, programa de extensão da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), que é desenvolvido nestes municípios.
Para praticar essa iniciativa de conservação destas espécies, anualmente, são feitos treinamentos a cada etapa do projeto (coleta dos ovos, eclosão/nascimento e soltura participativa de filhotes), envolvendo acadêmicos voluntários da UFAM e da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), além de comunitários também voluntários ribeirinhos e quilombolas de 18 comunidades de Oriximiná (PA) e 07 comunidades de Terra Santa (PA).
Capacitações - As capacitações na coleta dos ovos (outubro/2019) e na eclosão/nascimento dos filhotes (4 e 5/01/2020), ocorreram na comunidade da Casinha, localidade do Barreto, em Oriximiná (PA). Após esta capacitação, os acadêmicos foram designados para as comunidades, e os coordenadores visitaram as 18 comunidades, fazendo acompanhamento e reuniões. “Além do aumento do recurso quelônio, nosso monitoramento aumenta o número de peixes e de outros recursos, inibindo a caça e pesca predatória, pela presença dos monitores em campo. O resultado mais importante que alcançamos é a conscientização dos comunitários voluntários e seus filhos, que são os atuantes e multiplicadores das nossas ações”, relata Sandra Helena da Silva Azevedo, Coordenadora de Campo do Projeto Pé-de-Pincha em Oriximiná.
Fotos: Acervo ICMBio