No setor mineral, por exemplo, a meta é atingir 35% de mulheres contratadas até 2030

Segundo dados divulgados durante a “Semana de Diversidade e Inclusão da Mineração do Brasil”, realizada pelo Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), até agosto de 2021, havia 17% das mulheres atuando no setor. Um diagnóstico preocupante, que levou o instituto a estabelecer ações para incentivar a presença feminina na mineração. A meta é atingir 35% de mulheres contratadas até 2030. Um desafio já abraçado por muitas mineradoras, inclusive no Pará.

E é exatamente na conexão com a floresta e uma mineração sustentável que elas vão ampliando sua presença e conquistando oportunidades e reconhecimento. No distrito de Porto Trombetas, no município de Oriximiná, está localizado o empreendimento de bauxita da Mineração Rio do Norte (MRN), que nos últimos dois anos ampliou de 6,6% para 9,2% a participação de mulheres. Na empresa, elas dão um importante recado ao mundo atuando em diversas frentes: administração, operação, segurança, meio ambiente, gestão de pessoas e muitas outras áreas.

Natalina Couto é exemplo disso. Sua própria trajetória profissional traduz e acompanha a evolução e a ocupação de espaços pelo público feminino. Em 1996, iniciou como estagiária na Mineração Rio do Norte para concluir a parte prática do curso técnico em Eletrônica, que fazia em Belém. Três anos depois, ela se tornaria a primeira mulher a trabalhar na Operação de Secagem da MRN. “Sem dúvida, este foi o primeiro desafio que precisei enfrentar e que oportunizaram o meu desenvolvimento profissional, foi importante percorrer por esse processo para construir uma projeção de carreira sólida embasada na conduta e ética profissional. E minha recomendação às mulheres é que isso não seja um bloqueio, mas que seja algo a ser superado para alcançar outros patamares e sonhos almejados. Ao agir dessa forma equilibrada, mostrando segurança e confiança no meu trabalho, as próximas etapas foram ocorrendo de forma proporcional e sistemática. Fui me desenvolvendo e ganhando espaço dentro da empresa. Entrei como operadora, depois fui técnica de controle de operações e, em seguida, técnica de controle de turno. Por último, em 2015, fui promovida à gerente técnica da área operacional de Secagem”, relata.

A liderança também foi um desafio para ela, pois alguns paradigmas precisavam ser quebrados. “Quando você olha para trás e ver toda uma trajetória que teve que percorrer, ali você para e pensa: e agora? Eu me perguntei se ia dar conta. Mas logo veio o pensamento: se não tentar fazer, não vou saber. Logo eu mesma respondia ao meu questionamento, chegando à conclusão que era possível sim gerenciar um processo tão relevante da MRN que me proporcionaria outras habilidades específicas e competências profissionais. Entendi que as dificuldades e adversidades ao longo dessa jornada precisavam ser compreendidas como oportunidade de constante evolução profissional. Inspiro as minhas colegas de trabalho que as barreiras apresentadas precisam ser enfrentadas com determinação e profissionalismo para o nosso próprio crescimento em qualquer instância, caso desistamos, jamais iremos conhecer a força e o talento que temos, quando se tem garra e se quer fazer a diferença, tudo é possível”, acredita.

Com a engenheira Hellen Cristina Souza não foi diferente. Ela teve que quebrar tabus e vencer preconceitos desde a universidade. Dos 40 alunos do curso de Engenharia Mecânica, era a única mulher. “Eu ainda vivi um pouco de repreensão por ser mulher. Lembro que as pessoas sempre tentavam me induzir para fazer Humanas porque era coisa de mulher. Mas eu adorava matemática e comecei a me apaixonar pela Engenharia. Isso mostra que é importante não deixar com que a nossa força de vontade seja medida por outras pessoas. Temos que ser firmes e fortes e nos impor, valorizar o que fazemos. Isso vai fazer o diferencial para conquistarmos o nosso espaço. E para ampliar as oportunidades também me formei em Engenharia Ferroviária”, afirma.

Desde 2021, ela faz parte do quadro de profissionais da MRN e literalmente tem a missão de deixar a empresa no trilho. Hellen lidera uma equipe que é responsável pela manutenção diária dos 27 quilômetros de linha férrea da empresa. “Consigo fazer o meu trabalho de igual para igual, independente de gênero. Os desafios são diários e até maiores para a mulher, pois temos que conciliar vários turnos. Sou mulher, esposa e tenho uma filha. Para equilibrar tudo isso é um desafio diário e nós mulheres devemos conciliar isso muito bem para atuar de forma profissional. Agradeço a MRN por toda sensibilidade e pela forma com que nos proporciona condições também para manter nossas atividades e ter um tempo de qualidade com a nossa família”, declara.

Em comum, essas duas profissionais têm sonhos e querem não só ampliar horizontes, mas inspirar muitas outras mulheres a ocupar o lugar que elas desejam. “Meu sonho é conseguir me desenvolver mais na minha área. Pessoalmente, meu sonho é construir junto com a minha filha um mundo melhor para as mulheres”, diz emocionada Hellen. “Meu sonho profissional é ingressar em uma nova formação com o objetivo de desenvolver outras habilidades profissionais nas quais possam construir algo para as mulheres e assim plantar pequenas sementes para que despontem mais à frente. Quero deixar esse bom legado. Fora da mineração, tenho o objetivo de conduzir e desenvolver projetos sociais com foco na área da Educação e da cultura, já que sou formada também em Pedagogia”, revela Natalina.

 

Reconhecimento e valorização

 

As empresas de uma forma geral despertaram para a valorização de talentos femininos e hoje buscam imprimir políticas afirmativas para ampliar a equidade de gênero e possibilitar espaços de inserção para as mulheres. “Nos últimos anos temos conseguido trazer mais mulheres para o ambiente da mineração. A cada ano, temos investido mais em capacitação e em nosso banco de talentos para termos mais mulheres na operação. Temos investido em vários programas no eixo administrativo, técnico, tecnológico e operacional. Inclusive iniciamos nossa jornada em trazer mulheres como operadoras de equipamentos de mineração e em diversas áreas técnicas e operacionais. Sabemos que temos um longo caminho, mas estamos comprometidos em deixar nosso ambiente cada dia mais diverso e inclusivo", afirma Rogério Junqueira, diretor de Operações da MRN.