Desde sua criação, em 1999, Pé-de-Pincha já devolveu à natureza mais de 5 milhões de quelônios

 

Foto registrada antes da pandemia.

Para começar o ano com muita esperança, o projeto de conservação ambiental Pé-de-Pincha realiza ainda neste semestre a soltura de aproximadamente 65 mil quelônios nos municípios de Oriximiná e Terra Santa, no oeste do Pará. Realizado desde 1999, o projeto é uma iniciativa do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA) e da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) com a parceria da Mineração Rio do Norte (MRN), e prefeituras municipais que tem contribuído para garantir a conservação de quelônios na Amazônia.

 Com a pandemia da covid-19, foram grandes desafios para superar em 2020. “Esse ano foi diferenciado. Tivemos que efetivamente rever e repensar o sentido e significado da palavra proteção e prevenção, pois a espécie em ameaça já não era somente as dos quelônios. O principal desafio foi realizar todas as ações mantendo nossos parceiros e voluntários motivados e engajados no objetivo de proteção à espécie”, conta Genilda Cunha, analista de Relações Comunitárias da MRN e coordenadora do projeto pela empresa.

Para vencer as dificuldades, foi utilizada uma metodologia de revezamento de equipes e muita orientação aos comunitários envolvidos, com distribuição de álcool em gel e máscaras. Além disso, a próxima soltura, prevista para março, será diferente: sem convidados e parceiros envolvidos, com equipe reduzida, objetivando a saúde de todos e a manutenção da vida dos quelônios.

“Tivemos muitas dificuldades em 2020 devido à pandemia e outras questões que acabaram nos desmotivando um pouco. Mas a comunidade e uma equipe muito boa de mulheres abraçou a causa, ergueu a cabeça e foi à luta. Espero que, em 2021, possamos ter mais segurança ao realizar as nossas atividades no projeto”, conta Cezarina Pinheiro, professora da comunidade do Acapuzinho, em Oriximiná.

Para 2021, a previsão é de 65 mil filhotes de tartarugas, tracajás, pitiús, calalumãs ou irapucas que serão inseridos na natureza com o apoio da MRN, do governo, da instituição de pesquisa e de 26 comunidades das cidades de Oriximiná e Terra Santa. Desde 1999, já foram devolvidos à natureza 5,65 milhões, contribuindo para a conservação destas espécies.

“O ano de 2020 foi bem desafiador mesmo, mas conseguimos manter o alinhamento com as comunidades. Já que o projeto existe há muitos anos em Oriximiná, os comunitários conseguiram trabalhar por já terem o manuseio da técnica, contando com o nosso apoio de forma remota. Vamos seguir acompanhando como pudermos, sempre tendo em vista a segurança deles e a nossa também”, comenta Ruben Rodrigues, graduando de Zootecnia da UFAM.

 

Empatia e respeito ao próximo e meio ambiente

Atualmente, são 26 comunidades ribeirinhas participantes do projeto nos municípios de Oriximiná e Terra Santa. Os comunitários são envolvidos em todas as etapas do processo: desde a identificação das covas dos ovos até a ida dos filhotes para os berçários, onde os filhotes permanecem até o momento da soltura dos animais nos lagos e rios de origem. No início do projeto, a MRN doou canoas, motores, rabeta e combustível para as comunidades envolvidas. Atualmente, a empresa tem contrato de patrocínio com a Universidade Federal do Amazonas – UFAM, através da Fundação de Apoio Institucional Rio Solimões (Unisol). Além do patrocínio, a MRN continua fornecendo combustível, para os trabalhos de coleta e eclosão dos ovos, e ração para a manutenção dos filhotes nos berçários.

“As ações não poderiam ocorrer sem a participação dos comunitários voluntários e demais parceiros do Pé-de-Pincha. Mesmo com as dificuldades, o cuidado com o meio ambiente e com outro prevaleceu. Temos que pensar em aprendizados e reflexões sobre nós mesmos, como sociedade, no coletivo, pensar em exercitar a empatia, respeito ao próximo e ao meio ambiente e como podemos garantir o bem-estar comum”, avalia Genilda Cunha, da MRN.

Sandra Azevedo, coordenadora do Pé-de-Pincha pela UFAM, tem o mesmo pensamento: o empenho dos comunitários voluntários e parceiros foi fundamental em 2020. “O caminho pode ter sido difícil, às vezes até demais, mas todos souberam manter a confiança uns nos outros, e não desistiram em manter o projeto vivo. Nosso muito obrigada a todos os voluntários, comunitários e demais parceiros”, ressalta.